19.11.07

Memórias póstumas de um amor (?) mal-vivido

"Eu quero é correr mundo, correr perigo"

As opiniões dançam em mim, difícil ser convicta de algo, mas para quê?
Quero mesmo é me perder entre as mudanças, na bagunça que tem sido a minha vida.
Eu tinha escrito antes, uma carta enorme e cheia de sentimentos, mas a perdi em meio à livros e papéis aleatórios que invadiram meu quarto.
Teoricamente era de você que eu falava, e para você. Mas não, ao chegar no fim da carta, percebi que era de mim e para mim. Não que eu realmente pretendesse enviá-la, mas era
eu, que ao lhe reencontrar resolvi entender os motivos da minha repentina confusão.

Eu sorria, e não te olhava nos olhos.
E tinha sono todas as vezes que lhe encontrava.
Meu sono era um pretexto. Aliás, há um tempo tenho vivido de pretextos.
Pretexto pra não ver refletido em teu olhar o meu, e ver o quão falsa eu estava sendo.

Fugia - não de você. Você que nunca importou o suficiente pra isso.
Fugia de mim! de me encarar. Que me encarar tem sido tarefa árdua, já nem mais procuro o espelho antes de sair.

O que me repelia em você eram os teus sonhos - e haviam? Não haviam sonhos. Era a falta de sonhos, era teu mundo vazio. Teu toque nunca me trouxe desejo, jamais.

Eu nunca rezei tanto como rezei quando estava com você - e reza de ateu deve ser levada à sério, meu bem. Tal reza provém da dor e da agonia que já não se pode mais suportar, provém de uma contradição, do desespero. É pedir ajuda, sem saber a quem, é fechar os olhos, depois de muito enxergar. Achei que se ficasse só me livraria do vazio, e rezava para estar só. Ingênua que sou, não percebia que nenhum vazio se preenche com a solidão.

Eu não lhe largava, não sabia exatamente porquê, já que não me fazia nenhum bem. Ego, talvez, mas creio que não. Era o vazio, que eu buscava preencher, era o gosto dos sentimentos contraditórios que eu adorava sentir, um pouco do ódio e da aversão, misturadas à falsa paixão e à falsa euforia. Quando você foi embora, eu ri. Gargalhei. Mas lá no fundo, senti uma leve perda.

Não senti sua falta, embora na minha inocência tenha certas vezes desejado que tivesse aqui, esperando que meu vazio se preenchesse logo de uma vez. Mas esse vazio também não se preenche com tuas palavras vazias, socialmente programadas, que (in)conscientemente repetias em tantos ouvidos, tons repetidos, sem sentimento na voz, sem a transparência que eu gosto de enxergar no olhar alheio. Eu não me deixei enganar por tuas palavras. Estes tons não servem pra mim, meu bem. Meu ouvido não os escuta. Há uma incompatibilidade de tons entre nós.

E hoje eu sei viver com a solidão porque a amo, como amo a mim. Amo de um jeito dilascerante, amo o que eu sei e o que estou para aprender, meus amigos, discos e livros e nada mais, amo olhar para o passado, amo planejar o futuro [ó, incerto futuro!], amo confabular sozinha de madrugada, amo tanto que você em sua superficialidade de alma não entenderia, amo com uma intensidade que jamais lhe caberia.

Depois daquela carta entendi tudo, meu bem. Gostaria de encontrá-la para que visse as palavras originais. Porque ela exalava sentimento, sentimento que você jamais vai conhecer. Agora, bem, vou-me embora de uma só vez, sem jamais voltar a lhe tocar, porque eu agora me conheço bem, eu agora sei me respeitar e sei agir de acordo com as minhas leis, por mais clichê que isso pareça.
O muito ou pouco que houve entre você e eu hoje não passa de memórias póstumas de um amor mal-vivido. Saí e fechei a porta. São raras as portas que fecho. E dessa vez.. Passei a tranca.

1 .:

Anônimo disse...

uau!
Que isso Manuela, não é bem assim...

Grata pelo elogio.
Aquele abraço.

;*