28.5.08

avessa-me

um beijo;
desaguamos.
derretemos,
fundimo-nos.
dessolidificam-se os nós, dessolidificam-nós.
seu toque em meu toque minha pele arde por dentro; avessa-se.
continue aqui, não me solta nem por um segundo - só nós sabemos, só nós.

22.5.08

what exactly do you mean with "social life"?

Rir do que não me apetece, dançar um ritmo desconexo e viver por quem não me corresponde?
a minha vontade há tempos cessou - não há mal nenhum em estar tão só.

20.5.08

Eu tenho escrito pouco, porque tenho pensado mais.
Não que eu sinta menos, ou que eu não escreva quando penso. Sinto igual ou até mais, já há um tempo vivo uma turbulência que até hoje se faz eterna. mas este blog sempre foi lugar para sentir em linhas, se é que eu me faço entender, dos mais vis aos mais belos sentimentos, eu vim aqui registrar todos e o que eu tenho escrito ultimamente não é nada poético.
tenho estado só, só em todos os sentidos que você possa querer eventualmente interpretar,; só fisicamente e só internamente também. eu talvez tenha me isolado, com toda aquela história de "morar no interior do meu interior" ou talvez eu esteja perdendo aos poucos a capacidade de me sentir à vontade com as pessoas - como naquela crônica de Danuza Leão que eu li outro dia. Aconselho, por sinal. Talvez eu tenha crescido então, ou amadurecido, mas todo esse blablabla não me interessa, eu sei o quão imatura eu sou, sou eu que estou comigo todos os dias pra presenciar meus piores defeitos e a minha infantilidade ainda mais que presente.

Tenho pensado no futuro. Mudado de idéia, pensado diferente. Tenho conseguido me imaginar correndo riscos. Tenho estudado, até. Meu boletim veio muito bonito. Mas fora isso?
Deito tudo ao chão, como tenho deitado a vida! Já dizia Fernando Pessoa, em meu poema preferido, que eventualmente eu li ontem e cabe perfeitamente no meu estado atual.

eu larguei de mim já faz um tempo. eu me esqueci. eu já não me cuido mais, já não me importo com a aparência ou com meu estado emocional, estou apática. obviamente que ainda sou capaz de me indignar, quando eu não for, estarei morta, mas estou apática ainda assim. finjo não me importar durante 23 horas do meu dia, a outra uma, eu resolvo pensar em uma outra coisa qualquer. estou escrevendo o que há de meu íntimo, mas estou escrevendo o que penso - o que penso do que eu sinto, e penso que estou dizendo demais, que estou expondo demais. mas estou só neste blog como estou só em mim, e não tenho medo nenhum de ser lida. que leiam-me, que decifram-me, que interpretem-me, eu estou disposta a me expor ao vazio.
e deito tudo ao chão, como tenho deitado a vida.

13.5.08

Ensaio sobre a preguiça

Tem bilhões de pessoas no mundo. Os baianos particularmente têm fama de não fazer nada. Eu no caso abrangeria esse conceito ao Brasil inteiro. A preguiça não é só física. É intelectual.
Mas eu me pergunto: Fulano ganha o mesmo que Beltrano, e trabalha na mesma empresa que Beltrano, e trabalha 10x mais. Por quê? Porque Fulano não consegue ver nada errado e ficar quieto. Porque Fulano é inquieto e perfeccionista, porque quer que tudo dê certo, porque acaba assumindo o trabalho de toda aquela maioria que não quer nada. Beltrano, porque sabe da existência de Fulano, trabalha menos ainda, já que tem garantia de que todo o trabalho seja feito. E nem que ele quisesse trabalhar, talvez Fulano não permitisse. Nenhum trabalho é tão bem feito como aquele em que Fulano está envolvido. Os Fulanos sustentam o mundo, enquanto os Beltranos usufruem do resutaldo. Vendo por essa lógica, os Fulanos são os explorados, são os burros, são os que sofrem, são os que perdem a vida a estudar e trabalhar para sustentar a vagabundice alheia.
Fulanos são frustrados e fulanos não gostam de perder. Fulanos não se vêem no direito de ter preguiça, de falhar, de pôr tudo a perder. Livrai-me então (se ainda der tempo) de ser um deles.

8.5.08

não há nada pior

do que constatar um completo fracasso por trás de todos os últimos sorrisos.
desisto, desisto. não quero mais ganhar absolutamente nada. aceito a mediocridade.

4.5.08

abismo multifacetado

e assim nós vivemos.
de vez em quando a crueldade vem à superfície, e se deixa ver.
nós vivemos na superfície - não nos apetece mergulhar.
é mais confortável olhar pra dentro.
não há meios de se optar pela escuridão.
uns, são deliberadamente empurrados.
mais fundo,
mais fundo. eternamente.
nós todos preferimos ignorá-la.
eu prefiro.

e enquanto uns julgam-se superiores,
ordenando balas, incendiando futuros, alardeando discursos.
outros gritam, em silêncio ou não, querem ver-se livres.
querem saber novamente definir a paz.
eu não sei.
eu não sei gritar.


a vida? a vida é sorte.
não cavamos nosso próprio abismo,
ele vem junto à nós.
e não há mesmo como fugir, contrariar o que nos foi determinado:
gritar, com desespero, pôr as vísceras pra fora,
ou mesmo rezar. pedir pela hora da partida.
cair aos poucos, ou de uma só vez.
esquecer-se.
cada um encontra sua própria dor da maneira que lhe apetece.

Eles dizem: dar a luz.
Uma criança, uma luz.
Mal sabe as dores que uma vida pode gerar.


Quando a crueldade se mostra assim, só um pouco,
eu choro. eu me indigno. sinto-me indigna de participar deste grupo, desta raça, filo, espécie.
humanidade. chamam de desumano o que é cruel. quem é humano, então?
e a dor? é humana? é racionalizável?
e o descontrole?

eu neste momento sinto vontade de agradecer,
não sei nem a quem, por ter nascido de quem nasci.
onde nasci. com todos os órgãos de meu corpo.
por ter nascido em tempos de paz. por, por ventura, estar viva até hoje.
por não ter tido que encarar o que há por baixo.
não há justiça - não há.
somos distribuídos por mero acaso neste planeta, posto ao acaso num universo tão grande que a minha mente ilimitada não cabe medir. somos vítimas da sorte. do acaso.
é o que há de mais cruel. o acaso é o pior dos destinos.

e eu digo agora, sabendo o quão clichê vou soar,
sabendo o quanto repetem isso à exaustão.
eu sinto vontade de lutar pela justiça enquanto posso.
no plano em que eu posso. lutar pelo que há de desumano.
erradicá-lo, não ter mais que assistí-lo, nem superficialmente.
não precisar mais ignorá-lo. preste atenção:
quero ter o direito de tentar mudar.
apenas tentar. tentar a sorte.
nesta loteria de desenganos.

quero permitir-me iludir - desde que isso me leve a tentar. a lutar. a manter-me tentando, não importa o que aconteça. é o que há de subjetivo em nós que nos mantém firmes e fortes na objetividade. são meus sonhos quase irreais, utópicos, que me mantém acordando todos os dias pela manhã para tentar. tentar silenciosamente. tentar, ainda que ignorando. tentar. permitam-me. permitam-me escrever o que vocês não querem ler, permitam-me escrever para organizar minhas pequenas dores, tapar meus buracos. sei que ainda é cedo, mas já vou.