29.2.08

me surpreendi

vou ser objetiva:
me surpreendi em saber que a situação de caos que eu antes assistia e não conseguia ficar quieta (injustiça e preconceito me deturpam o ânimo, eu perco o controle) continua firme e forte, ainda que sem minha presença.

a tendência é que o tempo melhore as coisas, sim, é, mas parece que vai demorar muito mais do que o aceitável.
é que minha vida tá tão leve, sabe, os dias estão passando de uma forma boa, não há mais atritos, fiz as pazes comigo e com o resto das pessoas que eu convivo.
e a distância desse caos me levou a crer que as coisas melhorariam, mas ilusão minha.

sei que parece egoísmo, mas dou graças à sorte pela minha distância.
e peço à mesma sorte, ou ao deus de quem acredita, que resolva as coisas por lá.


escrevo apenas, e só apenas, pra deixar registrado um pedacinho da minha indignação. :)

26.2.08

Nublado em mim

Está sol lá fora, mas nublado em mim.
Enganei a mim mesma o tempo suficiente pra que a realidade me batesse na cara.
sinto-me podre por dentro, e apodreço mais por não compreender meus motivos.

quero expor-me ao íntimo, quero pôr nestas letras cada ínfima parte do meu desespero mudo, da minha dor lenta, da melancolia em que me enfiei.

a dor é uma decisão.
decisão de não aceitar o estado que me foi designado desde que nasci, que me acompanha aonde quer que eu vá.
é uma decisão não lutar contra este estado.
é uma decisão fingir não me importar.



sinto como se fugissem todos. escondem-se, assistem de camarote enquanto eu luto duramente com a realidade. Enquanto estou de eterno luto. Enquanto choro imóvel, enquanto tiro cada dia um pedaço de mim, sem mover um músculo. Luta? Não há. Não ouso me mover.

Sou submissa. Aceito. Não questiono. Deixo que um simples detalhe leve embora a cor do meu rosto. Deixo que meus raros dias de sol se despedacem sem reclamar.
Quero dormir e sonhar com outra mulher que não eu. Qualquer que seja. Qualquer uma que não precise fingir.


Eu sou uma farsa.

25.2.08

O sol me contou.

E o sol passeava entre o sono dela e a euforia dele.
Ela dormia à tarde, se sonhava, não poderia saber.
Mas ele sonhava visivelmente, sonhava com o corpo, ah, se sonhava..

O tempo? O tempo parecia não passar.
E ele rezava. Rezava e agradecia. Agradecia e pedia pra que quando passasse o tempo,
eles não se despedissem só com um beijinho sem gosto e vazio de significado.
Rezava pra que mesmo depois que o costume invadisse suas vidas, ainda houvesse abraços apertados e beijos sinceros.
Na cama, ela sentia o gosto da preguiça. Sentia o cheiro dele no travesseiro e desprendia o maior dos sorrisos.

O fim da história, o sol não me contou. Ele teve que ir embora e dar lugar à mais colorida noite daquele ano.

21.2.08

como era antes.

Ela se cansou, se enfastiou, largou de mão. jogou a toalha, bateu com a mão no tatame.
Desistiu!
Nem se arruma mais. É nítido na sua face sua nova inércia diante da vida.
Já não quer mais nada, já não fala mais nada, já quase não sente.
Sobra uns resquícios de sonhos inerentes à sua pele, frágeis como pó de giz.
Só de ver, me dá uma dó...

"Quero a tua força como era antes"

20.2.08

Devaneio Dois

Me incomodam os gritos vazios de significado destas vidas vazias de significado. Divertem-se com futilidades, têm o júbilo em palavras vazias de idéias. Tudo balburdiam, não há silêncios.
Me impedem de concentrar-me em mim, de fazer o que é mais raro e valioso nos dias atuais: pensar.
Condeno-me porque inevitavelmente sinto-me superior, e isto é sintoma de podridão.
Superior ou não, não me encaixo, não sou daqui.
Estes seres, desprovidos de consciência, deixando que a juventude passe sem que sintam, sem que se dêem conta.

19.2.08

Devaneio I

Eu pertenço às minhas idéias, e não o contrário.
Elas me condenam a uma eterna busca cuja mais-valia irá comigo ao túmulo.
O entusiasmo, o tempo trata de borrar. Chama de imaturidade, me pede pra esquecer.
Por isso escrevo! Pela vil consciência da efemeridade das minhas palavras, das tantas fases da minha vida.
Amanhã crescerei e meus escritos serão outros, com um pouco menos de paixão.
A vida encarrega-se de entediar-me um pouco mais a cada dia.
Escrevo, então, com o propósito de eternizar essa minha eloqüente e desesperada vontade de saber.

17.2.08

Brasília, 30 de Janeiro de 2058

Meu nome é Lucília, eu tenho 34 anos e eu procuro desesperadamente qualquer ser humano não acéfalo para me relacionar.
Caso se julgue nessa categoria, submeta-se à mais profunda reflexão, para não afirmar ser o que não é. Dizer ser o que não é tem sido um dos principais sintomas da acefalia.
Caso não seja capaz de submeter-se à uma profunda reflexão, ou não seja capaz de ler este artigo até o fim, feche este jornal.

Tenho esperanças de que entre os poucos que ainda lêem jornais, ou entre os poucos que ainda lêem qualquer coisa que seja, eu ainda encontre alguém que se livrou desta doença, deste desgosto, dessa epidemia de futilidade e podridão. Se há ainda este alguém, que me telefone, pois é preciso urgentemente perpetuar nossa espécie neste imenso mundo de ignorância em que estamos enfurnados. Para evitar que de péssimo venha a pior, decreto estado de calamidade pública e peço ajuda entre os milhões para achar um único, um único homem fértil de boa cabeça e que ainda saiba ler, escrever, e abrir a boca sem que dela saia nenhuma imundície, isso se sair alguma coisa.


Aguardo respostas ansiosamente.
Muito obrigada.

16.2.08

Se quer saber a verdade

Prefiro meus livros a teus beijos.

15.2.08

10 minutos de agonia diária.

eu tenho me encontrado diariamente com o passado.
literalmente. não estou metaforizando, não estou com meu lirismo clichê de costume.
todo santo dia, quando eu consigo crer que estou numa nova fase e sorrir, encontro um rosto.
que antes.. eram aparições eventuais. mas que é o símbolo mor de um passado que eu não quero lembrar.

e agora eu me encontro, todos os dias, involuntariamente, com este indivíduo.
o rosto em si nada significa. nem corpo. nem alma. cérebro então.. meu deus!
o que significa é a simples presença dele. é. maldita nostalgia associativa.

basta ver o rosto e o sorriso (bonito sorriso, por sinal) que me vêm na cabeça mil momentos diferentes.
como pode uma só aparição me lembrar um grande fracasso, uma grande inconsequência e uma grande frustração? momentos completamente distintos. ao mesmo tempo. e ele não tem relação direta com quase nenhum dos incidentes supracitados.


Pois bem!
por mais normais e interessantes (não encontrei palavras melhores para descrevê-los) que tenham sido meus dias ultimamente, me é reservado pelo menos uns 10 minutos de agonia diária.
mas amanhã.. amanhã é o meu dia de folga. :)

11.2.08

Há tempos

Que eu prefiro o sigilo.
Quebrei-o em mil segundos seguidos, estilhacei-me no tempo.
O que se apaga, não volta.
Está muito claro. Olhar pra frente dói.

10.2.08

take your shoes off

Todos os dias tiro o sapato para entrar em casa.
Motivos não faltam: higiene, vontade, costume.
É involuntário.

Hoje... Ao entrar no carro, em movimentos quase automáticos,
deixei os sapatos do lado de fora.
E fui para casa.

Dei-me conta só ao estacionar o carro. E voltei gargalhando para buscar meus sapatos.
No mínimo, peculiar.

não precisa explicar porque veio

entre e vamos fingir não fingirmos mais

7.2.08

transfiguração.

tá, os acontecimentos me obrigam a levar uma vida pacata e normal. (normal? jamais, né)
não que eu não goste de ler livros e passar um dia inteiro vendo filmes.
não que eu não queira estudar pra pensar no meu futuro, ou que eu deteste ficar em casa.
Não, mas é uma delícia o carnaval, sabe. Não o carnaval, o feriado, mas a euforia.
É bom saber que no outro dia, quando você acordar, vai dançar, entrar em êxtase, pular, fazer tudo que chamam de errado, divertir-se e esgotar-se fisicamente de tantos sorrisos.

Mas há as regras, as morais, os problemas. Era a ordem, era a prova, era o estudo, o uniforme, o futuro. Só um lado do mundo, afinal. E vou me entregar de corpo e alma a esse lado do mundo.

Às delícias das letras. Escrever como nunca, ler, ler, ler, comprar uma biblioteca só pra mim e fazer simulado de vestibular em plena quarta feira de cinzas, quando só restam as cinzas da felicidade de ontem.


Quando eu tiver em São Paulo, só, livre e responsável, tendo que lavar minhas próprias louças, eu me dou tempo para essas coisas.

Largo de mão a intensidade clichê das festas atuais. Não porque eu não goste. Mas porque não preciso delas, não posso com elas. Agora.. shows de mpb, livros, filmes, cozinhar nos fins de semana, fazer curso de espanhol, francês, italiano, estudar pro vestibular. Ler dotoiévski. Dormir cedo. Aprender fotografia. Trocar um aniversário e o dinheiro gasto no presente por um livro novo. Ver novela (oh, god). Discutir a fotografia do filme novo que saiu no circuito sala de arte. Trocar o álcool pela água mineral, pelo café quentinho. Andar de bicicleta na orla (eu não sei andar de bicicleta). Trocar os homens pelas letras. E etc eterno. Levar uma vida pacata.

Menos agitada, mas não menos agradável. Boa sorte para mim.