26.1.08

...


"A thousand miles seems pretty far,
But they've got plans, and trains and cars
I walk to you if I have no other way"


Quase me despedaço em saudades.
Preciso saber de você. E me sinto absolutamente louca por isso.
Como saudades? Estou delirando, imaginando coisas, meu deus, como posso estar com saudades? Você nem do meu nome se lembra, está agora em alguma mesa de algum bar de alguma cidade bem distante com alguma companhia bem melhor. Eu fecho os olhos e confundo ternura com amor, solidão com saudade. desconfundo.

olho bem dentro dos meus olhos no espelho e rio de mim.
acho que encontrei uma nova forma de sair daqui.

E bate em paz.

Talita era moça moderna. Diferente. Não o diferente igual que hoje todos dizem ser. Diferente, mesmo. E digo diferente, porque é tanto que eu não sei descrever em palavras.


Enquanto mascava chiclete e se lembrava do pôr-do-sol de ontem, escutava num fone a música que teu amigo, também diferente, lhe dizia ser de um novo seriado inteiramente gay. Sorria, mas sem rir. Queria relaxar, à todo custo. Livrar-se das preocupações, dos elos, dos abraços que ainda não se desenlaçaram, ainda que os corpos ainda estejam separados. Cuidar de pequenas feridas, que juntas podiam fazê-la desintegrar a qualquer instante.



Por isso estava no ônibus, seguindo à rodoviária de Salvador. Pra seguir pra uma cidadezinha bem pequena no recôncavo baiano, daquelas cidades que de tão longe nem se ousa dizer o nome. Para esquecer-se. Achar-se, entender-se. Se há um conselho que eu dou é: se alguém está tentando se achar, fique onde está. Caso contrário pode acabar perdendo-se para sempre. Mas Talita não me ouviu. Não quis me ouvir. Julgava saber o melhor para ela. Quem sou para contradizer?


_______


Juvenal era homem bruto. Da roça, do sertão. Homem de personalidade peculiar, que não se ver em qualquer um. Há quem diga que foram os raios de sol, que penetraram tão fundo em tua pele e alma que a modificaram para sempre.


Mas Juvenal não era diferente. Não, não. Era comum. Mais comum, impossível. Era um dos homens que arrancam um pedaço de si ao retirar-se de seu tão amado chão para seguir para o futuro sempre incerto de uma viagem à cidade grande. É um dos homens que não têm em seu vocabulário a palavra "adaptar". E se a têm, a esquecem, no momento em que tocam seus pés neste chão asfaltado, e que escutam o primeiro sulista exaltado que os olha feio por estar empobrecendo suas lindas cidades. Um daqueles homens que são retratos de uma realidade que grita, mas em silêncio - ninguém a escuta.

Um destes homens que têm como parte inamputável de si a saudade, a nostalgia, de um lugar que é a graça e o desespero de suas vidas. Que dariam tudo pra voltar, mas que sabem que não podem. Estes homens da cidade mal sabem a dor que é ver tua terra secar, secarem teus filhos, teus amores, teus riachos, tuas esperanças. Ah, não sabem! Não sabem o que é rezar por uma só nuvem no céu demasiado azul, que de tão azul dá náuseas em seu espectador. Era essa a rotina de Juvenal desde que ele se entendia por gente. Assistir o céu, em busca de mudança.

____

O encontro entre os dois foi de forma inusitada. No momento em que os pés de Juvenal tocaram a cidade de Salvador, teus olhos, que não conheciam lágrimas há anos, tornaram a inundar-se. Com a chuva. E com as lágrimas. A chuva abundante, chuva de litoral, já não havia azul no céu, já não havia azul no coração de Talita, nem no de Juvenal.

Talita hoje angustiava-se, enquanto Juvenal, ao olhar o céu, aliviava-se. Sentia que um tempo melhor viria - enganado estava. Entrou no primeiro ônibus. E de tão feliz, quase sem sentir, tocou sua sanfona e cantarolou, para que todos naquele ônibus pudessem sentir o mesmo sorriso que despontava involuntariamente de seus lábios e de sua alma.

Talita logo enfastiou-se das músicas do novo companheiro de lotação. Queria escutar a música eletrônica do seriado, música alternativa, djs da cena urbana! Quem esse homem pensa que é? Irritou-se. Queria acender um cigarro. Não podia! Ora, que regras mais estúpidas. O céu a cuspir todas as suas injúrias em cima dela. Havia dias que chovia sem parar em Salvador. Ela já não aguentava, já não suportava! Teve uma idéia genial: Se eu pagar, ele pára.


Foi na direção do homem, que cantarolava com seu sotaque irritante uma música regional e estúpida, da qual ela queria distância. Pôs uma moeda de míseros 10 centavos na mão do homem. Foram vindo várias pessoas depositar dinheiro na mão do homem. Juvenal ficou assustado, não entendia o que estava acontecendo, ele não estava fazendo isso com qualquer interesse! Queria devolver todo o dinheiro, mas as moedas tilintavam e misturavam-se, e o causavam náuseas, mais náuseas que o céu anilado que costumava lhe fazer tonto.


Foi quando olharam-se nos olhos. E neste olhar transferiu-se tudo. Toda angústia dela, todo medo. Toda raiva que o homem tinha daquele ser da cidade, e toda a dor que sentia por estar ali. A felicidade esvaneceu-se com a mesma velocidade com que a chuva se foi. As chuvas em salvador vêm e vão antes que se possa dar-se conta delas. Juvenal transmitiu sua história com aquele olhar. Sua dor, suas perdas. Ela contou-lhe que queria ver o sol novamente. Ele disse-lhe que o sol não é bom, que ele come as esperanças, o amor, a vida em família, o horizonte. O olhar foi o reflexo do paradoxo daquelas vidas ali, se encontrando. Em pleno caos de ambas as almas, aquele olhar tão intenso. Talita baixou os olhos. Pensava nos problemas sociais, pensava em quem votar no ano que vem. O homem era só melancolia. Das mais intensas. Deixou cair o instrumento, deixou cair lágrimas quentes e incontroláveis, que afogavam teus olhos. Sentiu o nó na garganta. Jogou para cima as moedas. Todos o observavam, assustados.

O céu, cinza. Nublado. Sem azul. O ar quente, quente, que abafava os medos e as angústias para que ninguém visse - e ouvisse. Sons, barulhos, buzinas e gente a falar o que não se quer ouvir.

_____

Chegou a rodoviária. Talita soltou do ônibus, sentindo-se enfim, aliviada. Respirou fundo e sentiu que as coisas iam mudar. Juvenal soltou também do ônibus. Comprou uma passagem de volta. Não suportaria - precisava do azul. Percebeu que por pior que estivessem as coisas, ficando no mesmo lugar há chance de melhora. Mexer onde está quieto pode fazer piorar. E foram ambos em caminhos opostos, buscando a mesma coisa - sorrir. de novo. Entre a mudança e o hábito, oscilavam ambos. Ao sentarem-se, cada um em um ônibus diferente, pensaram a mesma coisa:

Descansa, coração. E bate em paz.

25.1.08

se


Quem?
"Ignorância é força"

24.1.08

Dilema.

Renunciar ao prazer imediato de uma xícara de café?
Ou deliciar-me agora, para depois sofrer com os desprazeres da insônia?

Agora e sempre...
Agora. Ou sempre?
E que sempre?

23.1.08

dupla face

Enquanto a madrugada rasga o tempo, eu percebo que sem dúvidas até os erros mais cruéis podem ser justificados. Há sentimentos involuntários, há momentos em que fazer o certo é por demais doloroso pra se aguentar. Enquanto tudo ao meu redor parece estar prestes a explodir, eu, ainda, graças à sorte, intacta, posso perceber que cada situação, cada uma delas, tem mesmo dois lados, como me diziam. E apontar culpados agora de nada adiantará.

Eu daria tudo para poder dormir agora. Noctivagar já não me satisfaz como antes.

22.1.08

Reticências

Eu escrevo demais não é? muito. mais do que é possível ler.
Escrevo o que não vivo/vivo o que não escrevo
e escrevo pra ninguém ler, esperando no íntimo que alguém venha aqui ler minhas entrelinhas como já li a de tantos outros.

adicionei um contador. pra ver se alguém me lê. bobagem minha!
que diferença fará?

- Mas a curiosidade é a única coisa que tem me inspirado fidelidade ultimamente. (Não me ligue de manhã. Estarei dormindo)

21.1.08

involuir

estou assustada, não consigo aceitar tanto preconceito.
Por quê?
Não é amor, de qualquer jeito? Não cantavam todos, na adolescência,
"consideramos justa toda forma de amor"? E "somos todos iguais, braços dados ou não"?
Acho que as pessoas, ao crescer, ao "amadurecer", tendem a perder a noção de tudo! A esquecer de suas próprias experiências, em prol de uma moral que ninguém sabe quem ditou.
Amor não é doença. Não é pústula qualquer que sai com o tempo.
Não há remédio pro amor, e se alguém reprimir, ele só faz aumentar.
Não te lembras daquelas mulheres de antes, as de família rica, e seus amores proibidos, não te lembras de Romeu e Julieta? Não ouvistes historinhas o suficiente?! Já conheces o final desta história!

Eu sempre duvidei do amor, mas hoje enxergo claramente que ele existe, mesmo que efêmero, é um sentimento, e sentimentos não são perenes ou estáveis, não há nada mais incostante do que o plano das emoções, e pra um sentimento durar ele precisa ser alimentado. Ou por pensamentos próprios, por atitudes alheias, ou por, quem diria, repressão. Reprimir o amor só o faz aumentar e aumentar.

Eu sei que hoje observo de longe, mas sempre tive opinião formada e continuarei tendo, amor, amor, sexo à parte, o amor é livre, sentimento não se escolhe, esqueçam todos este preconceito arcaico e sem embasamento, ninguém, eu repito, ninguém vai chegar a lugar algum com isso.

Qualquer pessoa, lei ou sentimento que reprima o mais sincero desejo de alguém, desde que esse desejo não prejudique ninguém, é no mínimo um símbolo da mais pura crueldade. E deve ser extinto.

E eu, enquanto puder, vou ser contra estes atos cruéis, vou ajudar qualquer um que reprimido esteja e defenderei pra sempre o direito das pessoas sentirem ou expressarem o que sentem se esta for sua vontade. E não há moral mal-regida nenhuma que vá me parar.

Posso soar idealista demais, ou clichê, mas é que essas palavras transbordam sentimento, elas são reais demais em mim, não estou olhando estética alguma, isto é o mais puro desabafo.

E se por acaso, com os anos, eu me torne assim desse jeito, sem amor, seca, sem cor, sem sonhos, repressora de desejos alheios, cruel em meu íntimo, e tudo isso que eu enxerguei hoje à noite, eu, novamente, daria infimamente tudo para parar aqui.

como disse em um outro texto outra vez, "se com o tempo involuímos, daria infimamente tudo para parar aqui". Ou voltar...

Apatia

Ela deixa as coisas passarem sem se abalar.
Isso me irrita, sabe-se lá deus porquê.
Não consigo admitir tal apatia, tal distanciamento de tudo e de todos. Ela despreza tudo, duvida de tudo, não sente nada, porque sentir é sinal de fraqueza.
É um paradoxo, saber sem experimentar, é envelhecer sem ter sentido os anos passarem, amadurecer sem aprender.
Tão nova, e já sabe tanto que julga não precisar experimentar, se julga forte por demais para os prazeres mundanos. Olha pra tudo com um olhar de indiferença que reflete o que está escrito bem fundo em sua alma de pequena menina - e muito pequena!

Tão pequena, mas está sempre cansada. É frágil e se diz autêntica, não perde a pose. Sua falsa experiência não diz nunca a ela que o maior fraco é aquele que não admite a dor, o que a esconde até de si mesmo. As dores emocionais que ela ignora voltam, sempre, como dores físicas. Dor aqui e ali, e isto ela não tem vergonha de assumir. Não sei qual é a diferença. Se a origem é a mesma. Tão tola.

Antes achava bonito. Passava horas a conversar, me deleitava com suas idéias de mundo e sociedade. Hoje ela largou até as idéias de mão. Idéias, pra quê? Sonhar pra quê? Ah, ora, tá, não me faça perder a paciência!

Reencontrá-la me fez perceber que seu destino é se tornar mais imatura a cada dia que passa, é se distanciar da vida a cada dia que passa. Se pôr num pedestal de madura e indiferente e observar a vida de cima. Como se não pertencesse ao mesmo mundo que nós. E creio que realmente não pertence.

Eu? Prefiro toda a imaturidade do mundo à essa frieza e indiferença, tudo que é morno e sem sal merece extinção. Quero ir lá e provar, ir lá e sentir, não vou me prostrar na janela e esperar o tempo passar, no alto do saber. Quero mergulhar fundo, ir às profundezas de tudo o que eu faço, sejam elas claras ou escuras.

Quero um cigarro inteiro em um só trago, quero todo sonho do mundo em apenas um suspiro. Quero expressar-me inteira em uma só palavra, quero tudo em um segundo. E é essa paixão, esse imediatismo, essa fixação pela vida é que me mantém, é que me faz sobreviver, acima de todas as coisas. Quero viver orgasmos múltiplos em todos os poros do meu corpo. E da minha mente.

E você, pequena menina, (não citarei nomes)
Faça-me um favor! leve toda o seu tédio e seu estado inabalável pra lá. Não quero nada estável num raio de 1km. Ou fugirei.

16.1.08

one last dance

The dance was just a part of me I shouldn't show anybody, you know, all my moviments seems to belong only to me and I would never be able to show you my own soul. All this years I danced like another person, with the habits and the moviments of another person, I wasn't me, I wasn't free to move my body like I wanted to. I grew up with this beautiful songs and kind of my childhood and something inside of who I am now are all about dance.

But the dance I have inside me, all these moviments I hide you all, that's the most beautiful dance I could ever show, that's the truth about me. All these people just can't find out what's dance, you can't dance just learning the coreography, you have to put yourself into the moviment, I think there are things more important than ego or money or just being at a stage without dance what you want, without putting every single part of you in your moviments, only because you're there, waiting for the people to approve your dance, to approve you. Because you don't really know you are the only person who can approve your dance.

That's why I gave up dancing. I gave up dancing because I was weak and fragile and I couldn't hold this thing about approve myself and dance without fear of rejection. Because, yes, I know a lot the taste of rejection. And that's not good, I swear you I would prefer never knew it in my hole life. I would prefer never know the feeling when you think people are just better than you and nothing you could do would change this. People dance better, look better, have the public approvation and people are strong. People don't give up dancing, people hold on while the world is falling into pieces, people don't cry, people are not ashamed, people don't have any fear!

But I am not these people. And my worst mistake was trying to be these people. That's how I killed my dance skill. That's how I killed my dance dream. That's the real motivation for me to give up dancing. I cannot be like these people. I am just like me, and I was trying to put myself into these musics, these coreographys, these moviments, and I couldn't. I couldn't because people didn't let me. This cannot ever be called art. Because art is kind of creation, and love, and expression, and if I cannot express my feelings dancing, if I cannot express anything, if the only thing I can do is watching the right people and copy them, then I give up dancing for the rest of my life. I simply don't want to learn how to copy.

Dancing should be just like a challenge to me, if I was strong enough to keep dreaming, but I'm not. I'm still walking side by side with the reason, without emotion, I gave up expressing myself, I gave up this hole thing about feelings, becase I'm weak. Fragile. And I need these people help. I need them to be away from me. And I need them to stop me everytime I try to dance like them, or every time I look in a mirror while dancing, or everytime I get up on a stage.

I can only dance to myself, I can only dance to express, locked in a room without any public, or coreographer, I don't need rules for expression, please, understand. But my kind of dance is not what you see outside.
My dance isn't about have the perfect body. My dance is about have the perfect equilibrium between mind and body, between feelings and reason and all this thing. Or not. My dance could be only the expression, the time would never walk my dance away, I'll be able to dance when I'm 60, I'll never stop. Not because I don't want. But because I can't. My feet had danced for a too long time, they simply don't know how to stop now.

12.1.08

Olhar não paga

Maria Ana andava rebolando.
Atraía todos os olhares. Amava atrair. Queria todos - todos!
Fingia se preciso. Mudava. Pintava cabelos, cortava, engordava, emagrecia.
Para atrair os olhares certos.
Ela não era bonita. Não. Tirava boas fotos. Fotos nada mais são que olhares eternizados. O que a embelezava eram os olhares. Os olhares cheios de ego do princípio ao fim, que ela mesmo cuidava de encher. Ela desconhecia o desprezo. Se alguém a desprezava, desacreditava. Ria, fazia de piada. Considerava o sujeito indigno de nota. Gargalhava. Às vezes os levava pra cama pra os fazer apaixonar-se. Ah! Não havia nada mais prazeroso do que fazer um homem se apaixonar.
Não que ela quisesse mesmo se relacionar. Ela nasceu pro seu próprio ego, e este é o seu único amor. Já jurou fidelidade quinhentas e tantas vezes. Para sorrir sozinha depois, lembrando dos olhares e de quantos mais conquistaria.

Maria Ana ria de quem desacredita de si. Tinha pena.
Suas lágrimas só tinham um objetivo: atrair olhares de ternura, de consolo.
Era esta, Maria Ana, a menina viciada em olhares, que gosta de cores e fotografia, e de homens também. Se julga linda e inteligente. E acredita que se mentir, não fará mal. A mentira dela é perdoável. Por ser ela. Ela, a dama dos olhares, a que jamais passa despercebida.
Ela coleciona olhares. Os de inveja, os de desejo. Os de curiosidade. Era ela, Maria Ana, o centro das atenções. Ela corta as unhas bem rentes e não pinta os cabelos. Não usa roupas caras, não lê, nem bons livros nem revistas de moda. Ela julga não precisar. Ela não pára jamais, em sua ascenção na busca pelos melhores olhares, os mais instigantes, sinceros, penetrantes, na busca incessante pelo maior ego já visto. Mas quanto mais sobe, maior a queda, eu mesmo daqui já consigo ver a data certa em que ela se perde em si. Poderei assistir a sua queda. Olhar não paga.

exaurir-me só, sem sons.

Hoje acordei com o silêncio.
Absorvi o silêncio. E compreendi.
Fechar-me em mim, em meus próprios silêncios, é esta a solução.
permitir-me não contar. permitir-me não confiar, não expressar.

Sei que contrario meus princípios com isso.
Mas não há nada de tão mal em me exilar em mim.
Preciso mesmo de um tempo longe, vou cortar a minha vida social pela metade.
Tudo perfeitamente regrado, ninguém faz nada fora do clichê. Cansa.

Não espere de ninguém sinceridade, não pode haver nada de tão mal na insinceridade, aliás há uma beleza sutil na imperceptibilidade da linha que separa verdade e mentira, amor e tédio. contrastes me entorpecem.

agora é aceitar o mal como parte inamputável de mim, é compreender a imperfeição e amá-la, é me apaixonar pelos meus atos mais detestáveis. e sorrir.

Não há nada lá fora que não possa haver aqui dentro. De novo e sempre.
Mas para voltar-me ao centro, eu preciso me calar. não há outro jeito.
não me peça pra lhe contar como foi bom naquela vez.
absorva meu silêncio. interprete-o. sem mais perguntas.

11.1.08

Não pode ser mero acaso,

E se por ventura for, creio que devo agradecer ao acaso por cada segundo da minha última semana.
E, por acaso ou não, mesmo com tantas luzes na cidade, hoje consegui ver estrelas.

"O que antes eu não entendia, agora é ouro pra mim"

5.1.08

.

Eu sei que as coisas na minha mão tem tendência a quebrar mas antes que elas quebrem, caiam ou se percam é preciso que você saiba que você faz parte de mim.

4.1.08

Daniel,

Hoje lhe escrevo pra dizer tudo o que não agüento suprimir. Vai desculpando o mal jeito. Não medi palavras.

sinto vontade de rir deste povo que idolatra! que não questiona!
questione, meu bem! tudo! esgote todas as possibilidades antes de formar uma opinião, não se dê à um fato tão fácil assim, não se doe às influências facilmente!

é estranho pra mim que eu precise dizer isso a alguém. tô com a mão no telefone, quase ligando pra te dizer, pra lhe gritar e jogar tudo na sua cara, mas é que eu tenho medo de ouvir sua voz e acabar não falando nada disso. Incrível como sua voz pode mudar meu humor tão facilmente.

podia perder o ar ao lhe ouvir reclamar, eu adorava quando você reclamava, pelo menos protestava, questionava! Ora, detesto tua inércia. E tinha vontade de ir pra cama com você toda vez que você me manda largar o cigarro. Com aquela cara de aborrecido, e me beija, depois, contrariado. Isso é uma confissão, mon'amour, das mais íntimas. Já pensei em largar o cigarro várias vezes, mas desisti, pensando que se largasse, você jamais me pediria pra largar outra vez, temia que isso abalasse meu tesão.
Sinto arrepios que não gosto de admitir quando me chama de 'meu bem' e dá aquela risadinha irônica de merda que me seduziu naquela vez.

Ah, mas naquela vez eu estava bêbada. Aliás, ou foi você que mudou do vinho pra água, lindinho, ou fui eu que só recuperei minha sobriedade agora. Não me toca mais do mesmo jeito, acho que se preocupa tanto com explicações que não deixa o corpo fluir, deixa de tentar racionalizar tudo! você não era assim. Sexo é uma experiência que se narrada perde o encanto, pra que você quer falar tanto?

Pode falar, mas fala as palavras sem controle, fala sem pensar, sabe, fala ofegando o que o êxtase não lhe deixa calar, não fica tentando racionalizar o sexo, não lê livrinhos de como enlouquecer uma mulher. Isso é repugnante.

E fica cheio do ciuminho! Porra, Daniel, você sabe muito bem que eu sou livre demais pra você, não é, sabe que não sirvo pra me prender, que não pertenço nem a mim. lhe avisei isso desde a primeira vez. Agora você vem com essa? fui fiel a você esses três anos, pra você desconfiar?


Eu não sou uma mulher comum. Não te atrairia se fosse. Lembro dagente sentado na calçada de um país qualquer, sem um tostão, tomando uma cerveja cujo idioma no rótulo nem sabíamos qual era, rindo horrores e discutindo todas as suas teorias da vida. Lembro da gente em casa, sem querer sair da cama por 3 dias seguidos.

Você não é mais esse homem. Não é. Naquele dia fui embora quando você entrou no banho porque tinha nojo de você. Não suportava o fato de que você ia sair do banheiro e vir me beijar, ora, o beijo que eu tanto banalizei, teria um significado ali. Não suportaria olhar na sua cara e ver no que você se transformou. Num velho, Daniel. O corpo continua intacto, você agora inventou de correr 10km todo dia. Mas é um velho sim, em todos os outros sentidos, na cama, na mente, no coração! Morre todos os dias um pedaço do pouco que ainda há de bom em você, mas você deixa. deixa, nessa inércia.


Diz que o idealismo é coisa pra jovens, que paixão é coisa pra jovem, que queria mesmo era ficar aqui nesse apartamento sujo, pequeno e bagunçado saindo pra trabalhar atrasado todo dia. Chegando à noite e me encontrando lá, com hora marcada pro sexo, pra sentarmos e vermos tv a vida inteira. Eu tenho mais o que fazer, Daniel, francamente. Me dá nojo.

Você acha que sou sua mãe. Que vou cuidar de você pra sempre, não importa o quão grosso você seja. Devia ter-lhe cuspido a cara naquele dia. Nunca mais você ia erguer as mãos pra mim.Não que eu achasse que você ia mesmo me bater, você precisa demais de mim pra isso. Você no auge dos seus 35 anos esperando colo, Daniel.

Me livro de você como me livraria de um encosto, de um vício! O problema com tua voz é que ela me lembra um daniel que eu ainda amo, mas que não existe mais. Le temps détruit tout. Levou de mim o meu ar, você era o meu ar, me fazia querer mais e mais e mais de mim, de nós, da vida!

Agora, espera a morte com esta cara inexpressiva defronte à tevê.
Não vou dizer que não chorei. Chorei de raiva. De você e do tempo.
Le temps détruit tout. você que me disse, na calçada, em Paris. É. era em Paris. Agora me lembrei.


Adeus, Daniel. Se recomponha, se puder fazer isso sozinho, se não continue aí no chão, me olhando com esta cara de súplica. Não vou te ajudar. Não de novo. Me esqueça. A chuva já passou por aqui, eu mesma que cuidei de secar.

Ah, e eu larguei o cigarro. Adeus.
Rita.

2.1.08

sem aplausos

hoje aqui sentada em sorrisos bobos, relembro sem pesar o vislumbre de um rosto desconhecido através dos primeiros raios de sol da manhã.
confesso que meus textos estão péssimos, mas é que eu vivo o que eu não escrevo, ponho demais de mim a cada letra.

ainda cheiro a àlcool.
me pergunto como encobrir algo tão bom. Pra quê me calar?
eu gosto mesmo é de gritar, de cuspir as palavras em tua cara, de ver os meus reflexos em você. Dá vontade de rir ao lembrar.

Me censuro toda vez que conheço o gosto da culpa. e da vergonha. Meu rosto queima. Sorrio e esqueço. Mas uma história pra se contar - ou não.

As memórias dançam em mim. lembro-me do descontrole e só. o resto é consequência. Êxtase. Com platéia. Sem aplausos.