28.4.08

o começo do fim

eu me incomodo com o padrão simplesmente porque não é do meu feitio alcançá-lo, porque não movo um músculo nem pra tentar. é contra tudo o que eu quero pra mim. eu não vou viver de aparências - não vou gastar cada segundo precioso da minha vida pensando no que há por fora. o padrão é também comportamental - também não me encaixo. não me encaixo, não porque não quero me encaixar - embora não faça a mínima questão - mas só porque não. Porque não me agradam os gritos vazios de significado dessas vidas vazias de significado. Porque muitas vezes me apetece mais a minha companhia, a dos meus discos e livros e nada mais. Se eu me encaixasse, não me preocuparia com o padrão. A agonia de não se encaixar vem da vontade de mudar esse padrão, da vontade de encaixar os outros em si, da vontade de pertencer a um grupo, seja ele qual for. É o que faz as pessoas reunirem-se em grupos determinados por características que nem sempre importam, não são capazes de suportar a solidão de ser único. Após várias tentativas frustradas (alguns passam a vida tentando) de mudar o padrão a si, uns mudam-se, deformam-se, encaixam-se. Outros, se tornam autênticos, aprendem a viver sós. A viver por algo que lhe apeteça verdadeiramente, a viver por si e não pelo social. Sim, o social. Pois é. Sei que todos falam do social até a exaustão, até falar do social já virou socialmente aceitável, alguns acham bonito se você fingir que não vive pelo social. Fingir agora é padrão. Mentir agora é padrão. Os valores se inverteram, se perderam no abismo das modas nem sempre cíclicas e muitas vezes cruéis. Viver socialmente sem dúvidas molda todo mundo. uns mais outros menos, mas o social lhe determina, diz quem você é. já diziam os escritores naturalistas do século passado, o ser humano é produto do meio. do meio ou não, eu sou eu. as influências em mim atuaram de modo diferente. eu escutei as mesmas músicas, vi as mesmas aulas, li os mesmos livros e sou ainda assim diferente, é o que permanece. é o que não se modifica, ainda que eu vá a um meio degradante e me degrade também, é o que há de experiência em mim. é o que se aproveita da vida, que de justa não tem nada. é o que há de belo. é você poder lembrar, é poder escrever suas memórias, contar suas histórias pros seus netos. é você ser capaz de identificar em você e no outro o que há de autêntico, apesar das adversidades. até que o fim chegue. "esse é só o começo do fim da nossa vida"