12.1.08

Olhar não paga

Maria Ana andava rebolando.
Atraía todos os olhares. Amava atrair. Queria todos - todos!
Fingia se preciso. Mudava. Pintava cabelos, cortava, engordava, emagrecia.
Para atrair os olhares certos.
Ela não era bonita. Não. Tirava boas fotos. Fotos nada mais são que olhares eternizados. O que a embelezava eram os olhares. Os olhares cheios de ego do princípio ao fim, que ela mesmo cuidava de encher. Ela desconhecia o desprezo. Se alguém a desprezava, desacreditava. Ria, fazia de piada. Considerava o sujeito indigno de nota. Gargalhava. Às vezes os levava pra cama pra os fazer apaixonar-se. Ah! Não havia nada mais prazeroso do que fazer um homem se apaixonar.
Não que ela quisesse mesmo se relacionar. Ela nasceu pro seu próprio ego, e este é o seu único amor. Já jurou fidelidade quinhentas e tantas vezes. Para sorrir sozinha depois, lembrando dos olhares e de quantos mais conquistaria.

Maria Ana ria de quem desacredita de si. Tinha pena.
Suas lágrimas só tinham um objetivo: atrair olhares de ternura, de consolo.
Era esta, Maria Ana, a menina viciada em olhares, que gosta de cores e fotografia, e de homens também. Se julga linda e inteligente. E acredita que se mentir, não fará mal. A mentira dela é perdoável. Por ser ela. Ela, a dama dos olhares, a que jamais passa despercebida.
Ela coleciona olhares. Os de inveja, os de desejo. Os de curiosidade. Era ela, Maria Ana, o centro das atenções. Ela corta as unhas bem rentes e não pinta os cabelos. Não usa roupas caras, não lê, nem bons livros nem revistas de moda. Ela julga não precisar. Ela não pára jamais, em sua ascenção na busca pelos melhores olhares, os mais instigantes, sinceros, penetrantes, na busca incessante pelo maior ego já visto. Mas quanto mais sobe, maior a queda, eu mesmo daqui já consigo ver a data certa em que ela se perde em si. Poderei assistir a sua queda. Olhar não paga.