31.12.07

Sobre os fins.

Malfadados fins, sempre sós.
Ainda que reze para que o fim chegue,
O que se espera é o início. Novos e novos inícios.
Ninguém compreende a sutil beleza de um fim,
aprender a interpretar olhares de despedida
comover-se com a melancolia de tentativas de novos inícios afogadas de álcool em noites sem cor.
Ninguém enxerga o valor da desilusão.
Os fins levam tudo embora, até dores mal-cuidadas,
até amores mal-curados.
Findam o silêncio e a música, findam a paixão e o desespero.
Quando agoniar-se, inquietar-se, quando tentares dormir em vão, quando sentir as lágrimas brotando por vontade própria dos teus olhos, quase afogados de tantas lágrimas, quando sentir o gosto amargo do desespero,

Absorva o fim, toque-o, aproveite-o, sinta-o com as mãos, trate-o bem como merece!

Amanhã, jogarei as mãos aos céus e agradecerei ao fim por levar tudo embora num átimo de segundo - sem nem tempo pra lembrar. Sorrir, rir, gargalhar. Anestesiada pelo fim.

28.12.07

Feliz Ano Velho.

Quando chega o fim do ano, é natural começar a pensar no que foi o ano que passou.
Este ano foi tão rápido, mas arrastou-se dentro de mim. Como se eu o tivesse empurrando em direção ao seu fim. Porque não, ele não foi dos mais agradáveis. Foi um ano de solidão. Não da solidão no pior dos sentidos, mas de estar só. Lembro-me claramente de andar sozinha no British Museum, e no que eu escrevi naquele dia, no meu caderninho de viagens. Prefiro a minha própria companhia. Foi um ano de beijos vazios - todos eles, sem exceção. Não busquei me relacionar. Descobri também que não quero tantas pessoas em minha vida. Conheci tanta gente, tanta gente sem propósito. Gosto de gente que me faça querer pensar.
Eu apareci na televisão, em 2007. Pra mostrar meu maior fracasso :)
Este ano eu pude ver o que é perder. O que é apostar todas as suas fichas, dedicar seu tempo das sete da manhã às nove horas da noite todo santo dia, sem tempo pra comer ou pensar, pegar ônibus lotado sem saber pra onde, perder rios em dinheiro, perder aulas que você sabe que não pode perder. Soube o que é perguntar-se se vale a pena. Soube o que é tornar-me responsável de uma hora pra outra. E soube o que é ver nenhum reconhecimento. É, meu bem. Eu não vou esquecer. 113 votos. Talvez não fosse tão importante assim...
Lembro-me bem, que tomei umas latas de cerveja e cheguei até a rir, depois, mas isso é natural, rir do nosso próprio fracasso, ri das minhas lágrimas que ainda nem tinham secado. É o poder do álcool. :)
Penso em 2007 e vejo claramente 4 fases. A primeira e a melhor de todas, regada à êxtase, cigarros, cerveja e carnaval, beijos muitos e bons, promiscuidade à flor da pele, e quem vai se importar? Depois veio a fase só. Amigos que se afastam em segundos, ora, cada dia me surpreendo mais com a efemeridade das relações. Dessa fase, lembro-me claramente do fim. Beijos proibidos regados à tequila num banheiro pequeno. E lágrimas no dia seguinte. Parece um drama, uma novela. E a terceira e melhor das fases, a viagem. Cuja importância não dá pra descrever. E a quarta fase, a fase em que eu me encontro agora. Uma fase mais tranquila. Cheia de inseguranças, cheia de altos e baixos. E com muito tédio. Tão tranquila. Fase de voltar pra casa antes da festa começar.

Há muito o que mudar, pra começar tenho que ser menos ingênua. Não sei até quando posso suportar as pessoas dizendo que eu sou precocemente madura, e coisas do tipo. eu não sou. Sou tão bobinha, tão inocente. Ainda espero alguém pra me impressionar, eu ainda sonho. Não espremeram minhas emoções até o fim.

Lembro-me que chorei nos instrumentais do teatro (mas a dor é fato), lembro-me que ri sozinha de livros que lia. Escrevi mais, li mais. Pensei mais. E que venha o novo ano. As novas dores. Meus novos quereres, minhas novas lembranças.

Nenhum dos pedidos que fiz na virada do ano se realizou. Mas foi bom assim, há coisas que eu acabei aprendendo com essas novas fases que eu nem sonhava em saber. Eu cresci - e vou mudar ainda mais nesse novo ano. Sinto-me tão incoerente falando de anos, sabemos nós que anos são determinações do ser humano, que é mais uma estratégia pra que o indivíduo esvazie seu tédio e encha-se de falsas esperanças a cada 365 dias. Talvez seja o máximo que possa aguentar, porque no fim o que resta é um céu sem fogos, todo mundo igual, uma praia suja e uma garrafa de sidra quebrada no chão. Eu vou mudar sim, daqui pro fim de 2008. Mas no dia 31 de dezembro, quando os fogos estourarem, a única mudança vai ser a falsa sensação de esperança que vai se instalar em mim.

26.12.07

a thousand miles away

quilômetros nos separam.
digo a mim o tempo inteiro: mantenha um abismo e meio de distância daqueles que são iguais a você.
mas é que me incomoda, e é esse incômodo que me atrai, que não me deixa fugir.


acho que o que eu mais gosto em você é o fato de ter de lhe esconder isso;
é incomôdo e me satisfaz - o que posso querer mais? :)

24.12.07

A flor amarela.

Ela era bonita. Bem bonita.
Bonita é pouco! Era esplêndida.
Quando encontrei-a, me fugiu o ar dos pulmões.
Olhei pra um lado, olhei pro outro, e fui falar com ela.

Ela pareceu surpresa de me ver. Mas por quê? Estranhos abordando-a na rua não devem ser apenas raros incidentes. Contei-lhe que estava impressionado. Ela ruborizou - ruborizou! pode acreditar nisso? Eu custei a acreditar. A beleza moderna se putrefaz em sua superficialidade, quase já não se vê belos rostos ruborizados por aí. Os elogios banalizaram-se, as belas palavras tornaram-se clichê. O belo hoje tem consciência que é belo, e dizer isto a ele não faz com que esboce qualquer reação. A beleza nos novos tempos é amiga inseparável do ego. Ó, ego, que está sempre a aumentar a cada ínfima parte do tempo. E para ruborizar-se, algo há de mexer em nós, por dentro, é deixar a emoção aflorar antes mesmo de pensar em escondê-la. Os belos não ruborizam mais.

Mas ela não. Ela, no alto em sua beleza, beleza que há de se contemplar, uma tez rosada, como se fosse corada permanentemente, como se sentisse a todo o tempo. Era sem dúvida um ser sentimental. Cabelos lisos, pendendo ao lado do rosto, mal cuidados, é verdade, e meio sem cor, de tantas tintas que já aplicou, mas e aqueles olhos? Os olhos...Olhos de sonho. Olhos raríssimos de se ver, ainda mais agora que não se sonha mais, que sonhar é privilégio dos tolos, que a vida se baseia falsamente na razão.
O corpo era sim a mistura perfeita entre menina e mulher, eu não saberia dizer a idade dela, não saberia dizer o seu nome. Observei-a de perto. Ela parecia tentar fugir. Não sabia exatamente se de mim ou de sua própria beleza. Senti compaixão, pena. Agora sim via claramente. Uma menina, apenas. Uma criança. Levei minha mão a teu rosto.

Pensei por um segundo ter visto um lampejo de ternura em seu olhar, mas não. Ela olhou-me com desdém, como se eu fosse um estranho - e eu era, afinal. E foram poucos os segundos que separaram esse olhar do momento seguinte, embora pra mim a crueldade desse olhar tenha-o feito parecer durar muito mais. Como uma menina bonita dessas poderia olhar-me de forma tão cruel? Mas a crueldade não deformou-lhe a face, pelo contrário, deixou-a ainda mais bela. Não tive tempo para tirar minhas conclusões, ela já estava andando rápido na outra direção e sumindo entre os muitos rostos que andavam rumo ao que desconheço.

Achei ter-la perdido de vista, e acendi um cigarro melancolicamente, imaginando ter-lhe estragado o dia. O que passou pela minha cabeça? Perguntava-me mil e uma possibilidades para não ter posto tudo - que tudo? - a perder. "Ah, eu sempre perco" - Pensei. Foi quando vi.
Ela esteve em minha frente por mais de meia hora, enquanto fumava, no bistrô em frente. Não era um bistrô. É que bistrô me faz lembrar Paris, e eu pensei deixar a história mais romântica. Era uma loja de fast food bem lotada e cheia de funcionários (escravos). E ela ali, com os olhos opacos, sem sonhos dentro deles. Atrás de um balcão escrupulosamente limpo, porque a gerente exigia que fosse assim. Um pouquinho só de sujeira talvez fosse bem-vindo, talvez não a visse se debruçar para limpar o balcão tantas vezes ao dia. Os cabelos presos no alto da cabeça, cheio de fios soltos. Um uniforme cinza e ridículo, que a ofuscava ainda mais. Mal suportava vê-la debruçada sobre esse balcão, desperdiçando a beleza que lhe foi dada, não é justo com os deuses, pequena. Não é justo comigo, com você.

Suportei vê-la ouvindo a chefe gritar meio mundo de humilhações, ao achar uma parte do balcão que ainda não fôra limpa. Vi seus olhos sem sonhos encherem-se de lágrimas. Manteve-se calada e muito quieta. Trocar sonhos por lágrimas. Como pôde? É, tolos são os que sonham, os que sentirão mais tarde o sabor de fel da desilusão. Comprei-lhe uma rosa amarela. Amarela para lhe dar forças, era do que precisava. Fui no seu caixa. "Boa tarde, minha senhora". "O que queres?" - ela perguntou, me reconhecendo. Estendi a flor pra ela e fui-me embora antes de ver o sorriso na sua face, antes de ver que a chefe lhe tomou a flor das mãos segundos depois e despedaçou-a no chão, antes de ver que ela catou os restos sem que a chefe visse, enquanto estava sendo demitida, e saiu dançando da loja, de tão feliz. Sem ver que devolvi o brilho aos olhos dela e sem nunca saber que a partir daquela noite, a cada rosto na rua que ela olhasse ela procuraria o meu, o do homem que, segundo ela, salvou a sua vida.

23.12.07

o cheiro dos meus próprios cabelos

Me retiro à insignificância. à indiferença e ao mau gosto.
retiro-me ao desespero. agarro-me a ele.
sinto o cheiro dos meus próprios cabelos.
despenteada e suja. Eu acordei e estava nua. Me vesti das más companhias.
esqueci os bons dias, recortei-os cuidadosamente da minha memória.
releio meus textos e rio deles, de tão ridículos.
as águas caem, repugnantes, nos bueiros do jardim, tal qual meus olhos hoje fecham-se, por já não mais querer enxergar.
não me importa o cheiro que as flores exalam.
já não me importam suas cores.
tudo o que vivo é uma realidade bêbada que anseia por um passado inalcançável.
passado? ora, que passado!
não o quero, leve o pra longe de mim.
agonia! a cabeça a rodopiar. não me toque.
Escute bem o que eu digo: Não me toque.
perdi a sensibilidade ao toque. perdi a sensibilidade...

21.12.07

ensaio sobre os bons livros.

eu de longe. observo. sem me envolver.
sentimentos amadurecem.
visivelmente, amadurecem.

há sentimentos que eu nao acreditava existir - que eu imaginava instintos.
não são. simples letras impressas num papel os despertaram em mim.
há poucos livros que me tragam à esse estado.
rir e chorar num espaço de poucos segundos, não conseguir parar de ler até que o fim chegue.
e lamentar o fim, quando ele chega.


Letras podem disfarçar a dor. Cegá-la. Aliviá-la. Entorpecê-la.
Mas a dor é fato.

20.12.07

=

eu disse que eu era uma mulher seca, como aquela flor, que eu tanto maltratei, antes de subir no palco.
disse também que por mais seca que eu fosse, por mais que eu não sentisse, eu sonhava. Eu sonhava e era isso que me mantinha viva. E que me fazia sobreviver.
Disse que até ontem achava que o que me punha para baixo era parte inamputável de mim. Mas que eu consegui me livrar. Olhei pra baixo e a vi querendo voltar pra mim. Livrei-me dela. Despedacei a flor em cima dela. Gritei, senti, de verdade.
Disse tudo isso com uma platéia à minha frente, mas sem enxergar nada. Eu parecia em transe. Eu tinha medo de não dar certo, de errar. Mas amarrar-me a ela e vendar-me os olhos enquanto ouvia insultos me trouxe à irrealidade. Como se eu entrasse em transe, era eu, eu não estava atuando.
O que eu disser soará fatal e inteiro! foi o que eu disse, olhando nos olhos dela, com muita raiva.
Um grito de liberdade, como disseram. Citei Clarice, como era minha obrigação citar. Transformei mesmo o texto em um pretexto. E acabou. Acabou num grand finale, eu a ofegar.

Ouvi um elogio mais que sincero. Quer dizer, gosto de acreditar que foi sincero, apesar da minha contraditoriedade interna. Me agradeceram por ter vindo e ter dado a oportunidade de ver aquilo ali. Que era um retrato do alter-ego de cada um. Que todo mundo tem esse conflito interno e houveram arrepios. Adoro arrepios. O dono do elogio me fez chorar horrores na apresentação dele. "Mas a dor é fato". Uma sensibilidade que eu ainda não consegui enxergar em ninguém além. me tocou em lugares que nem eu conhecia, nas fossas abissais das minhas emoções.

Arrepios, afinal. recebi certos apertos de mão, e cumprimentos. Me falaram da fotografia. Sorri. Ouvi críticas também. Mas estava anestesiada, e nada importava. Nada importava.
Esse é o bom do teatro - me deixa penetrar em mim como ninguém jamais fez.

18.12.07

ansiedade

Sempre gostei de fazer aquilo que não fui preparada pra fazer.
Sempre gostei de deixar pra última hora e me virar em mil pra resolver.

Não há mais boas sortes sinceros, em alguns minutos vou me amarrar e desamarrar.
Prender e desprender. Aguentar alguns insultos.
com uma crítica platéia a aplaudir.

15.12.07

nãosaber

Eu não sei seu nome. Não conheço as linhas do teu rosto.
Nunca ouvi o teu grito nem o teu sussurro.
Eu não conheço a textura da tua pele. Não sei que músicas cantas no banho.
Não sei que horas acorda, não sei o que te faz sonhar.
O que te enlouquece. Não conheço as entrelinhas dos seus prazeres.
seus desprazeres. Desconheço-os todos.
Não conheço teu cheiro, a cor dos teus cabelos.
Se eles se enrolam ou se apenas caem em linhas sem ondas.
Não sei ler as linhas da tua mão, não conheço o teu destino.
Não sei teus sonhos de cor, não enxergo as mesmas cores que você.
Poderia passar dias a me perguntar para onde leva o seu horizonte, que jamais saberia responder. Tampouco sei para onde apontam suas vontades.
Não sei como você está, se meu rosto já se cruzou com o seu numa dessas avenidas.
se o meu olhar refletiu o seu sem saber, se nos esbarramos no vai não vem dessa vida sem propopósito.


Mas sinto-te em cada nota que o som emite, sinto-te em cada letra que eu escrevo.
E espero. E como espero.

10.12.07

Devaneios recíprocos.

Ela pensou nele antes de dormir, ele sentiu uma pontada no estômago quando a viu.
Ambos sabiam - estavam ligados de alguma forma.
Ela desacreditou do amor há tempos, a razão a sustentava, não sem dor.
Ele, entre tantas que lhe apareciam, desaprendeu a valorizá-las. Poucas eram as que mereciam. Ele não sabia selecionar.
Ela se perguntava o nome dele, se perguntava o que ele fazia. Ele não era bonito.
Ele viu nela alguém diferente. Alguém do outro extremo. De outra realidade.
Pertencente a um outro quadrante. viam-se opostos, e isso os atraía.
não é o clichê do 'opostos se atraem'. é o desejo visceral de completar o que falta em si, de encaixar-se na parte contrária. mas sabiam que ao fim da temporada de espetáculos jamais se reveriam, sabiam que jamais se tocariam. era uma agonia o que os preenchia, mas era alívio também. era bom devanear.

A beleza dela era diferente, era marcada pelo que havia por dentro.
O que ele queria era saber o que há por dentro. E o que há por fora.
O elo que os ligava era mais que físico, mas era físico também. Ele a desejava.


Ele dançava, ela era atriz.
Se encontraram por obra do acaso. No camarim, ela fitava o chão, dentro de seu próprio universo.
Ele notou que ela não estava bem - como notara?


- A gente trabalha com o corpo. O corpo não mente.
Foi essa a justificativa que ele deu. Ela se surpreendeu. Quis passar a noite a explicar-lhe o que a angustiava. Quis pegar-lhe a mão e pôr em seu rosto - tal repentina vontade de sentir a textura da sua pele. Demorou um minuto pra responder, em que se olharam. Ambos curiosos, ela tímida. Ele esperou a resposta, em vão. Era hora de entrar no palco - corre! 7, 8! E um tango os separou.

Ele a queria. Tentou arrancar-lhe sorrisos, sem sucesso. Mal sabia ele, que ao ir dormir àquela noite, ela sorriu - lembrando-se dele.



No último dia do espetáculo despediram-se num abraço. Com saudades do que não aconteceu.
Foi a única vez que ele a viu sorrir.

29.11.07

Ápice

Pessoas, que se interpenetram tais quais as palavras, que só atingem o ápice quando afogadas em sentimento, quando fora de qualquer lógica, quando o que se escreve se perfaz em emoção nua e pura. Não a pureza inocente, a pureza bruta e em tons de cinza que eu hesito em conhecer.

Ó, meu bem. Me pergunto o que pra ti é pertencer, dizes que se prende por opção, chamas de amor a posse. A falsa liberdade, que lhe pondera e lhe comede, que tu chamas de amor. Ora, se o amor é posse, esqueça-se livre, pense em ti como prisioneira das más interpretações.

O desapego lembra desalento e abandono, talvez por isso fujas tanto. Eu falo em abandono e vejo tuas lágrimas caírem, você diz nao saber o porquê. Ó, querida. Eu sei.

Digo-te que o mundo gira pela dor e pela melancolia, o amor, meu bem, é segundo plano. Tua pele, ao queimar em febre, pede pela dor que está a chegar! A única explicação para que os indíviduos busquem a posse como amor é mesmo o gosto pela dor, pelo sofrimento.

Somos animais, inconsequentes, loucos, embora tentemos nos racionalizar mais a cada instante, no extase e no ódio somos animais os instintos que nos ferem a pele de tão selvagens, afloram, tão humanos somos nós nesses tempos, ó vida sem nenhum tipo de máscara, uma felicidade bêbada e inconsequente - amar, pra quê?

Encontro meu caminho perante meus instintos.
Tenho tido medo da sua moral mal-regida, meu bem.

26.11.07

Fincar os pés no chão.

quando eu era menor, meu sonho era ser bailarina.
mas as cortinas não se abriram pra mim
e eu dancei durante anos com as cortinas fechadas,
se elas se abrissem, eu despencaria.

desisti. troquei o palco dos teatros pela minha própria vida,
e desde então venho dançando, esperando que as cortinas jamais se abram.
eu iria sufocar com tantos flashes de exposição.
não há bastante masoquismo em mim para sorrir enquanto meus pés se desintegram...
Não é de minha índole falar do que nao sei, por isso me calo, enquanto espero.

e eu, a que espero?
espero um desproposito qualquer, enfiada debaixo de tuas cobertas, seja lá quem você seja, numa noite morna de setembro, depois do ápice da minha noite fugaz.
espero. meus sonhos amadureceram, enquanto eu.. eu continuo a mesma.

21.11.07

IV

Nós, a calçada e o céu.
Só pra nós.
O tempo a se arrastar.
Nos arrasta - São tantos de nós!
A tampa anilada a nos estarrecer.
Derreter.

É só um jogo, é só um jogo.
Só pra ilustrar.

São tantos nós! - Quem dera tu viesses desatar-me.

III

Eu era jovem, e vestia longos vermelhos.
Encoberta - sem pudor.
por dor.
da alma belamente escondida que se recusava a chorar.

Estilhacei-me no tempo.

II

é, parece mesmo um despropósito.

Desvirginar-te os olhos,
Deixar que as cores lhe invadam,
Sentar-me ao léu na esquina da noite,
abrir-lhe a bebida com o vestido, vermelho.
vermelho blasè. Acender um cigarro.
Perder meu corpo no seu, a noite a me engolir.

I

Ao ver a tal despropósito,
a menina fechou os olhos com tanto estrépito
que as pálpebras caíram ao chão.

19.11.07

Memórias póstumas de um amor (?) mal-vivido

"Eu quero é correr mundo, correr perigo"

As opiniões dançam em mim, difícil ser convicta de algo, mas para quê?
Quero mesmo é me perder entre as mudanças, na bagunça que tem sido a minha vida.
Eu tinha escrito antes, uma carta enorme e cheia de sentimentos, mas a perdi em meio à livros e papéis aleatórios que invadiram meu quarto.
Teoricamente era de você que eu falava, e para você. Mas não, ao chegar no fim da carta, percebi que era de mim e para mim. Não que eu realmente pretendesse enviá-la, mas era
eu, que ao lhe reencontrar resolvi entender os motivos da minha repentina confusão.

Eu sorria, e não te olhava nos olhos.
E tinha sono todas as vezes que lhe encontrava.
Meu sono era um pretexto. Aliás, há um tempo tenho vivido de pretextos.
Pretexto pra não ver refletido em teu olhar o meu, e ver o quão falsa eu estava sendo.

Fugia - não de você. Você que nunca importou o suficiente pra isso.
Fugia de mim! de me encarar. Que me encarar tem sido tarefa árdua, já nem mais procuro o espelho antes de sair.

O que me repelia em você eram os teus sonhos - e haviam? Não haviam sonhos. Era a falta de sonhos, era teu mundo vazio. Teu toque nunca me trouxe desejo, jamais.

Eu nunca rezei tanto como rezei quando estava com você - e reza de ateu deve ser levada à sério, meu bem. Tal reza provém da dor e da agonia que já não se pode mais suportar, provém de uma contradição, do desespero. É pedir ajuda, sem saber a quem, é fechar os olhos, depois de muito enxergar. Achei que se ficasse só me livraria do vazio, e rezava para estar só. Ingênua que sou, não percebia que nenhum vazio se preenche com a solidão.

Eu não lhe largava, não sabia exatamente porquê, já que não me fazia nenhum bem. Ego, talvez, mas creio que não. Era o vazio, que eu buscava preencher, era o gosto dos sentimentos contraditórios que eu adorava sentir, um pouco do ódio e da aversão, misturadas à falsa paixão e à falsa euforia. Quando você foi embora, eu ri. Gargalhei. Mas lá no fundo, senti uma leve perda.

Não senti sua falta, embora na minha inocência tenha certas vezes desejado que tivesse aqui, esperando que meu vazio se preenchesse logo de uma vez. Mas esse vazio também não se preenche com tuas palavras vazias, socialmente programadas, que (in)conscientemente repetias em tantos ouvidos, tons repetidos, sem sentimento na voz, sem a transparência que eu gosto de enxergar no olhar alheio. Eu não me deixei enganar por tuas palavras. Estes tons não servem pra mim, meu bem. Meu ouvido não os escuta. Há uma incompatibilidade de tons entre nós.

E hoje eu sei viver com a solidão porque a amo, como amo a mim. Amo de um jeito dilascerante, amo o que eu sei e o que estou para aprender, meus amigos, discos e livros e nada mais, amo olhar para o passado, amo planejar o futuro [ó, incerto futuro!], amo confabular sozinha de madrugada, amo tanto que você em sua superficialidade de alma não entenderia, amo com uma intensidade que jamais lhe caberia.

Depois daquela carta entendi tudo, meu bem. Gostaria de encontrá-la para que visse as palavras originais. Porque ela exalava sentimento, sentimento que você jamais vai conhecer. Agora, bem, vou-me embora de uma só vez, sem jamais voltar a lhe tocar, porque eu agora me conheço bem, eu agora sei me respeitar e sei agir de acordo com as minhas leis, por mais clichê que isso pareça.
O muito ou pouco que houve entre você e eu hoje não passa de memórias póstumas de um amor mal-vivido. Saí e fechei a porta. São raras as portas que fecho. E dessa vez.. Passei a tranca.

14.11.07

Flor

Eu me lembro como se fosse hoje. Foi num ponto de ônibus.
Já tinha a encontrado aleatoriamente aqui e ali, mas ver, mesmo, do jeito que eu via naquele momento, jamais teria sido possível. Os raios de sol, naquele momento, concentraram-se completamente nela, e não havia outro lugar para onde eu pudesse olhar, mesmo se eu quisesse.

Ela apertou as mãos, nervosa. Provavelmente por uma angústia qualquer. Namorados, atrasos, mentiras e isso que faz parte de nossa vida. Suspirou e me perguntou as horas. Na verdade talvez não tenha sido pra mim, o momento não está claro em minha memória, me lembro apenas dela e dos olhos sombreados, com uma olheira aqui e ali, da melancolia sutil por trás dos óculos de aro vermelho. Me lembro que provavelmente ela estava a lembrar-se do namorado, que ela imaginava estar com outra naquele momento. O nome dela era Flor, ela morava em Ondina Morava sozinha, era atriz. Trabalhava com direção de arte e ganhava bem. Era mais bonita, mais simpática, mais culta do que ela. Se vestia melhor. Trepava melhor, também.
E ela não existia - só na convexa imaginação da moça, que divertia-se com o sutil prazer da dor de diminuir-se.


Ela lembra-se da cor dos olhos da mãe. Azul, azul como este céu sem nuvens, de sol escaldante. Fazia calor. Ela seca uma gota de suor em direção aos seios. Lembra-se dos desencantos. Lembra que mentiu pra uma amiga e não sabe o que fazer pra não mentir de novo. Tem unhas vermelhas. Não o vermelho da moda. Vermelho forte e aberto, vivo e berrante. Ela disse à manicure que ela estava livre pra escolher o esmalte. A mulher deve ter passado aquele que ninguém nunca usou. Mas ela até gostou. Combinava com seus óculos.


Ela não era magra. Nem gorda. Não se importava. O que a fez roer unha e borrar o esmalte nesse momento não foi insegurança. Ah, não. Desse mal ela não sofre. Ou finge não sofrer.
Ela tem cabelos bem pretos. E lisos. Bem presos no alto da cabeça. Segura uma bolsa, também vermelha, de cetim. Ela não é bonita. Nem feia. Não se importava. O que a fez borrar o esmalte foi a Flor, foi o gosto da angústia, que ela nunca quis largar. Fechou os olhos, como quem quer esquecer, ou lembrar. Levantou-se.

Eu estava no alto dos meus devaneios sobre a moça, quando ela se foi, sem que eu visse.
Entrou num ônibus que levava ao campo grande e partiu, sem nem olhar pra trás.
E eu morrerei me perguntando se era mesmo uma flor o motivo da sua angústia.

12.11.07

Portas abertas

pagar pelos erros alheios faz parte do ciclo vital.
não lhe aconselho a se esforçar pelo certo.
Lhe dou sim, um bom conselho:
Esqueça-me.

Eu não sirvo pra você, ou pra mim.
Quando passar pelas portas, deixe-as abertas, pra que você possa sair depois.
Não olhe ninguém nos olhos e não responda à nenhum chamado.
Eu perdi a sensibilidade ao toque, mas a minha capacidade de mentir continua intacta.

Não lhe quero aqui, não lhe quero em mim.
Estou bem sozinha.
Olhe nos meus olhos, dá pra ler.

Lembro-me da última vez que lhe disse isto.
Me respondeu que lia nos meus olhos o contrário do que dizia. E talvez, bem, tenha razão.
Só talvez. E viro as costas. Lembrando do teu sorriso e fechando os olhos pra esquecer.

10.11.07

Sobretudo

sobre ondas e mal-vividos sonhos, sobre gente que arde.
sobre aquela voz, que, presa na garganta, jamais pôde ser calada.
sobre quem acorda à noite pra escrever cartas à ninguém.
sobre a noite que se mantém intacta, alheia ao tempo.
sobre a lua, que quando nova perde o brilho.
sobre a mais premente necessidade do ser humano.


sobretudo, sobre tudo.
estou perpassando sobre tudo, revisitando as más vistas, dançando de olhos fechados.
Não estou a voar, mas vejo tudo de cima. O fio de vida que me mantém em pé é rarefeito como o ar ao redor. Observo as cinzas. De velhos textos, de velhas vontades. Daquilo que jamais cheguei a passar a limpo. É inverno agora. E deu no jornal que é o maior frio já visto até então.

31.10.07

Keep Looking Up

Regra que não sei seguir
Ou se canta no teu tom, ou tu vens a me calar
Na rua os gritos do vento não abafam minha voz
As vezes o vento grita para que ninguém se cale,
para que nenhum protesto deixe-se reprimir,
Para que a voz que me fazes calar ecoe noite afora.
A noite é amiga.
Com lua ou sem lua, com álcool ou sem.
Da noite escorre um raro mel do qual hoje aprendo a usufruir.

Lento e melancólico, meu grito se perfaz.

Sobre os lápis e as borrachas.

COMETI UM CRIME
omissão de socorro.

vi o mundo sangrar e fechei os olhos - quero a cura para o ceticismo.

Matei meu amor antes dele sonhar em nascer - é questão de escrever de lápis para apagar depois, ou nem escrever.

Fui contraditória, talvez, autêntica. Quis não seguir regras, desaprendi a perder.

Mas ainda sei chorar, meu bem. Não espremeram minhas emoções até o fim.

Auto-exílio.

Amar a quem?
Lanço um apelo a essa brisa que hoje sopra, pra que meus medos não se escondam atrás da porta
e venham cá, te olhar nos olhos, te encarar

Pra que essa cortina de fitas de cores e samba se mantenha dentro de mim a cada sorriso, ainda que raro.
Peço ao céu que seja do mesmo azul pra sempre, pra que o que eu lembro jamais se apague e para que um filho meu possa olhar na mesma direção.
E que as palavras se desenhem em si mesmas e corram atrás dos vazios que os jovens deixam.
Para que eu possa dançar de mãos dadas com o tempo, na praça em Barcelona, com lágrimas nos olhos e com a pele intacta.
Devaneios que corto pela raiz para evitar a tão temida ilusão, os quero de volta, com a capacidade de crê-los.
Quero poder acreditar, reacreditar.
Quero o mundo menos clichê,
um pouco mais de amor. um pouco mais de brilho nas manhãs.
Para todos, seja em que fuso estejam.

O tempo não deixou voltar. Quero de volta as lágrimas que sequei, os risos que abafei.

Farta estou de medir-me, conter-me diante de ti - Quem é você?
Não sei a quem escrevo, não sei quem escrevo, sei quem me escreve.
A mulher que me escreve costumava sorrir ao se olhar no espelho.
Agora o espelho quebrou e ela casou-se com o vento. Percorre o mundo em novos ares,
se alimenta de luz. Dorme sem sonhar, e sonha sem dormir.

Passa madrugadas fazendo planos prum futuro que pode não vir. Dê-me a ingenuidade da mulher que me escreve de volta, é preciso reaprender a cumprir promessas.

23.10.07

Indolor

eu tô vazia, parece que não tem nada dentro.
me afoguei no cais. Porra. No cais. Quando já tinha chegado, e me amarrado, me afoguei. Pensando bem posso ter me afogado porque me amarrei. Depois que eu comprei a porra do espelho virei atriz. Fico treinando formas de me agradar. Já joguei o espelho no chão, mas ele não quebrou, dizem que se quebrar dá 7 anos de azar. Azar, porra nenhuma. Cruel isso de ter que me impressionar, né.

Reclamar, falar mal, chutar e maldizer, sem pensar. Pensar, pra quê? Eu quero me reformular, o sol não deixa. Bate na minha cara e me dá lágrimas nos olhos, mas sabe lá deus porque eu não baixo os olhos. Não é coragem, não. Nem persistência, nem nada de que eu possa me orgulhar. Tá na hora de comprar novos perfumes.

O que eu sinto não é desespero não. Se eu tirar minha máscara, não há nada. Estou invisível até para mim mesmo. Até pra dançar eu meço os movimentos. E repito o mesmo discurso que já tá desbotado de tanto eu usar.

Você que me lê, peça pra seu deus para que ele não te leve a cor. Eu, hoje, sou incolor. Indolor.
In-dolor.

20.10.07

uma noite não é nada, meu bem.


Vem
Se tiver acompanhado esquece,vem
Se tiver hora marcada esquece, vem
Vem
Venha ver a madrugada e o sol que vem
Que uma noite não é nada, meu bem





samba me faz sorrir, traz uma alegria que eu não sei dizer de onde vem.
não aquele samba exposto, das mulheres sem roupa no rio de janeiro e só, o samba como samba, que de forma simples traduz o brasil em umas notas por aí.

e o restinho de tristeza que sobrava aqui hoje se esvaiu, fingiu não existir, disse que vai embora e volta outro dia. tive um dia com gosto de sábado, de um sábado como eu não via há muito.


Estou tão, tão feliz, dessa vez dispenso o 'apesar de'
ouvir música boa, gastar horas rindo com quem eu amo, um pouquinho da adrenalina do proibido, e sambar sozinha no meu quarto.

E enfim:
Declaro-me renovada.


mesmo que amanhã tudo volte a sua (a)normalidade.

que uma noite não é nada, meu bem.

15.10.07

a ilusionista.

quase perdi a cabeça, mas continuo aqui
minha presença é sutil, quase nem eu percebo.
mudanças quase violentas. de quem quero me esconder?
sou uma ilusionista. o que vês pode ser a verdade,
tanto como pode não ser. be careful - eu sei mentir.
dizem que o mistério atrai, mas todo esse drama a respeito do futuro hoje me dá náuseas.
matar ou morrer, ficar ou correr,
estou aqui parada, esperando ordens que não sei se vou obedecer.
cansada. fisicamente cansada. o emocional mantém-se intacto, mesmo sendo ele o repetidamente abalado.
não abaixo a cabeça. quer bata-me na cara ou puxe-me os cabelos, não abaixo a cabeça.


espero todo dia algo que não vem.
o mundo gira e eu fico aqui, entre ouros e sedas, num falso palco,
com luzes de mentira. esperando. e não vem.

5.10.07

Moral?

há um código de comportamento pairando sobre nós.
fazer o que não se quer virou moda, agora.
sorria, você está sendo observado.
chego a sentir o gosto do clichê.
e a solução?
finge que tá tudo bem.

Que moral é essa? Por que fechar os olhos pra uns e abrir para os outros? Mais uma vez, prefiro fechar os dois e me prender em mim. não há nada lá fora que não possa haver aqui dentro.

Nós só vamos embora quando tudo terminar.

2.10.07

teatro

o teatro me renova, é minha terapia.
encontrar personagens dentro de mim,
me ver de mil jeitos diferentes num mesmo espelho.
não sei o que estava em minha cabeça quando larguei o curso, mas voltei e parece que nunca saí.
Acho que todo mundo devia fazer teatro. Esse é o texto menos lírico do meu blog, mais parecido com um relato da minha vida. Mas eu gosto do lirismo. E o teatro é o meu lirismo. O teatro é meu lirismo exagerado transformado em real. O teatro é minha válvula de escape.

Escrever também me renova, mas o teatro é o teatro.
me perder de olhos fechados nas músicas maravilhosas e assumir uma personalidade escondida dentro de mim! não sei como consegui ficar um ano sem isso.

sentir, esta é a palavra de ordem. "Não atue, por favor". Sinta.
me sinto, literalmente, sentindo.
Mal posso esperar até a próxima terça.

1.10.07

um sorriso pintado a noite inteira

estou podre, vou me decompor em segundos.
é preciso tomar cuidado pra não sucumbir.
talvez essa história de renascer das cinzas não funcione mais.
eu escondo a dor num sorriso que pinto no meu rosto,
com cerdas de velho um pincel formados por fios de boas lembranças
sinto-me falsa, sinto-me usando máscaras
antes eu queria ir embora, agora eu preciso.
ir pra algum lugar onde eu não precise fazer planos.
onde eu esqueça pra sempre o gosto da frustração.

28.9.07

Ao tempo, uma prece.

Minhas noites com sol, meus lentos olhares ao redor.
rezando baixo pra que o tempo não demore a passar.
dancei por tanto tempo que hoje nem que eu quisesse poderia parar.
Não seria fácil convencer os meus pés a manterem-se inertes.
Não seria fácil perder meu ritmo, deixar de me perder em meio ao som

Ao tempo, uma prece.
Se com o tempo, involuímos,
sou capaz de infimamente tudo para parar aqui.
ou até retroceder.


tudo hoje é tão fácil que perde a graça
palavras que queimam, abraços que se perdem
bem-vindo à frieza do terceiro milênio.
Vivemos numa neve eterna.

Fecho os olhos para lembrar, e fecho os olhos pra esquecer.
Pra quê mantê-los abertos? Minha vontade de ver, de repente, cessou. Não há nada de belo lá fora que não possa haver aqui dentro.

Os rostos vão despedaçando-se.
A lembrança, se fica, se torna vã.
Um mero fiapo da vida que se costumava levar.

As plantas crescem em direção ao sol.
Seres humanos crescem em direção ao chão.
Chão duro e impenetrável,
Frio e implacável: Morte.

Não te preocupes; levarei tuas dores embora
não terá com que te preocupares,
teus medos, derreterão, e você entenderá.

não se preocupe em entender, viver ultrapassa todo o entendimento

13.9.07

Poesia em prosa

sinto-me presente. De presente, sinto. De repente, sinto.
Sinto no presente. Quem não cala mente, mente também aquele que não fala.
Feita de mentiras é a nossa casa.
Soltou da minha mão quando enxerguei o chão. De repente sinto.
De repente existo. Sinto o chão em mim, a dor de não sentir.
Lutar pode doer. O sangue já não cai mais de tanto sangue que derramaste antes sem justa causa.
Venha conversar. Venha contemplar.
Contemplar a vinha, ver o mar. Maresia que sopra.
De longe sinto e procuro escutar.
És o mar, és o ar, és o tempo e és meu lar.
Já não sei. Não sei se já. Sei que não. Ou não, eu já sei. Confusão.
O que é entender, o que é me perder.
Meu olho na janela. Me olho na janela. Espelho de mim mesma. Mim no espelho mesmo.
Português não é razão. O que pode ser certo, o que é sua lição?
Às vezes meu coração bate no ritmo errado, desaprendo meus gestos e venho a cantar.
Canto como quem não houve a própria voz. Para onde estou indo, o que foi feito de nós?
Nada me pertence e a nada pertenço eu. Me nade, me pertence, me perca por nada.
3 meses de amor sem garantia.
3 vezes sem juros de alegria
Encoste o sol no mar e compreenda sua euforia.
Fazer sentido pode não fazer sentido algum.
Como se houvesse uma linha por onde seguir.
Quem a desenhou?
Quem a descobriu?
Quem me limitou?
Quem espera mais da vida põe o dedo aqui. Não põe o dedo onde não foi chamado, não vá chorar pelo leite derramado
Aguente o espelho quebrado, deite-se no gramado e ponha-se a chorar. ou a rir.
Viva no teatro da vida, no clichê, no melodrama. O que é duro é duro e não quebra nem que a tal da água mole bata por dias inteiros. Adeus.


Escrevo para você, que não me conhece. Na esperança de que venha um dia a ler.

31.8.07

Yesterday

Love was such an easy game to play
now I need a place to hide away


Odeio perder, odeio desistir, dói lá no fundo.
É mais eu tenho que aprender. "well I guess this is growing up"

Mas não dessa vez, muito obrigada! :D

28.8.07

do jeito estúpido como as coisas mudam

o tempo pulsa em pedaços de lembranças
em flashes de sonhos que eu nao lembro quando acordo.
o que passou, passou, o que passou ficou.
o que determina, o que me faz escolher
há escolha?


...do jeito estúpido como as coisas mudam.
sem avisar. sem me deixar ver, estou cega pela velocidade com que as informações penetram nos meus olhos. estou viva a 450 km/h. não há mais para onde olhar, para tudo que olho sinto como novo, parece que vivi um sonho e acordei de mau humor.


não funciono antes das 8 - sempre disse isso. mas agora perdi a noção do tempo, do fuso, das horas, do qe é lembrança e do que é real, tudo se mistura no caleidoscópio do que eu quero e não quero pra mim. não sei quando as 8 horas chegarão, mas só quero acordar meio dia.

Everybody's gotta learn sometime!

Me afogo na lírica
Sou feita na intertextualidade
Já não me pertenço mais
Enxergar além do óbvio
Além do que se vê
...E se eu pudesse entrar na sua vida?

Disseram que a liberdade é ambígua, que ser livre é submeter-se às regras.
Ser livre é submeter-se?
Não ligo muito para a tal ambiguidade, já que ambigua soy yo.


esse blog não me expressa - nenhum! isso explica a grande quantidade de blogs que já tive e abandonei. tentarei escrever com frequência, I swear.

20.8.07

Sonhos

Sonho, eu sempre sonho
Que o amor eu irei buscar
Sigo uma alameda e alguém é o meu par
Alguém que eu venero, que eu tanto quero
Que eu não sei quem é!
Sonho e no meu sonho..
Sigo com um certo alguém!
Elis Regina


pode rir de mim, sim, pode, eu deixo, até eu riria. O fato é que eu dormi e sonhei, sonhei e acordei apaixonada por uma pessoa que não existe. Ai, que nojo, cada entrelinhazinha que eu falo aqui sôa mais clichê que o mundo. Mas é a verdade. sonhei e quero registrar, porque mundanamente eu nunca senti isso por ninguém. Um amor platônico, no sentido literal da expressão, um amor do mundo das idéias, eu me lembro do rosto, da voz, se visse seria capaz de reconhecer. Mas eu nunca vi, além de dentro dos meus sonhos. E olha que eu nunca fui muito romântica, sonhadora, etc e tal... Não acredito muito nessas coisas. Mas não é questão de acreditar, estou sentindo. Acordei e continuo sentindo. Seria bom se eu fosse capaz de prever.. Ou talvez não, talvez você exista em algum lugar e tenhamos nos encontrado em sonhos, e talvez seja melhor que acabe aí - para que não se modifique... Ah, falando sério, eu estou me sentindo ULTRA brega; mas o que fazer, sonhei e acabou, e preciso registrar isso porque eu não quero esquecer, nunca, nunca.... =)~


Escrevo para você, querido, sem nome a quem eu possa me referir, mas você sabe quem eu sou, muito bem, do mesmo jeito que eu sei quem é você. Senti por você o que eu nunca senti por ninguém, queria continuar dormindo, para continuar sonhando.

Agora.. falando sério (eu falei sério em todo o post mas eu tenho uma espécie de vergonha de admitir, eu nao estou acostumada a fazer declarações de amor, e isso parece ainda mais ridículo quando eu me refiro a uma pessoa que eu não conheço), sonho é uma coisa estranha pra caralho. Racionalmente falando, eu inventei um rosto, uma pessoa, uma personalidade e um sentimento, e só por acaso, me lembrei. Porque não se lembra de todos os sonhos..


ok, há mais entre o céu e a terra do que sonha nossa vã filosofia.
E eu continuo me sentindo ridícula até agora =)

9.6.07

escrevo uns versos, depois rasgo

Seres humanos esperam uns dos outros,
Pais esperam bons filhos, filhos esperam bons pais, gerentes esperam bons empregados, empregados esperam bons gerentes. Empresas esperam bons clientes, clientes esperam boas empresas. Namorados esperam bons namorados. Amigos esperam bons amigos.
Esperam todos de todos os lados, já não há tempo nem para respirar!
Hoje percebi que nem sempre todo mundo consegue cumprir todos os seus papéis
papel de pai, de mãe, de escritor, de amante, de trabalhador, de ser humano
Falhar pode ser fatal.


Hoje encaro a incerteza de escrever pra ninguém ler. que fim isso terá?
nunca soube terminar as coisas
nunca soube terminar os textos
ou soube? eu sei mentir, sei atuar
ou não sei?
duvido agora até de mim?


Ora essa, mas por que não duvidar!
Vou-me embora agora, pra onde não sei, pretendo me perder e que nunca mais me achem
ou talvez eu queira que me encontrem
já não sei, me perdi
Boa noite, até a próxima, até a volta, até o fim.......

26.2.07

sem fim

~
vou de lá, vou de cá, me procuro sem cessar
uma explosão de vontades
de cores de curiosidades
implosão de curtos-circuitos de sentimentos sem nome
sem cor e sem cheiro e sem gosto
sentimentos sem porquê
promessas nunca terminadas, finais nunca alcançados.
vontades reprimidas retraídas oprimidas.

sorrisos escondidos e lágrimas que foram enxugadas antes de cair.

mostre-me tudo, mostre-me tua cara, mostre-me se sabe sangrar, se sabe suportar os reflexos dos meus atos nos seus.

mostre-me. eu quero ver.

outro retrato em branco e preto

minha vida entrou no trem e eu fiquei na estação vendo o céu fugir.
todos os meus amores não possuem cores;
todas as minhas ânsias fugiram pra onde meu corpo não possa alcançar.
Eu falava de mim, de você, de nós, da vida. Mas não havia ninguém pra ouvir.
Eu prefiro o silêncio.
Eu prefiro a calma. Eu prefiro o deserto que meu coração é e será, mesmo que eu às vezes tente tirar ele de lá.
eu prefiro me ter como companhia, eu sempre soube me fazer feliz, eu sempre soube ouvir meu próprio grito, pintar minhas próprias cores.
minha solidão é minha maior arma, minha maior virtude, meu maior trunfo.

eu amo a mim como nunca amei a ninguém, eu peço-te agora que saia do quarto e feche a porta antes que eu te peça pra ficar. Já conheço os passos dessa estrada, sei onde vai dar tudo. No final serei eu e o espelho e o único conforto é o meu desengano. dias tristes, noites claras. histórias de amor em bloco de notas com finais felizes que não existem
do nada parece que nada mais quer existir.
só essa vontade de estar .
no deserto, sem saudade, sem remorsos, só, sem amarras, parto embriagada ao mar.