23.12.07

o cheiro dos meus próprios cabelos

Me retiro à insignificância. à indiferença e ao mau gosto.
retiro-me ao desespero. agarro-me a ele.
sinto o cheiro dos meus próprios cabelos.
despenteada e suja. Eu acordei e estava nua. Me vesti das más companhias.
esqueci os bons dias, recortei-os cuidadosamente da minha memória.
releio meus textos e rio deles, de tão ridículos.
as águas caem, repugnantes, nos bueiros do jardim, tal qual meus olhos hoje fecham-se, por já não mais querer enxergar.
não me importa o cheiro que as flores exalam.
já não me importam suas cores.
tudo o que vivo é uma realidade bêbada que anseia por um passado inalcançável.
passado? ora, que passado!
não o quero, leve o pra longe de mim.
agonia! a cabeça a rodopiar. não me toque.
Escute bem o que eu digo: Não me toque.
perdi a sensibilidade ao toque. perdi a sensibilidade...